por

Dell Xavier.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Da difícil arte de redigir um prefácio.

Pre(difícil), para Nara Belmonte.

Nara, eu não sei como te dizer, sinceramente, aos prantos estou só de pensar no que vou ter que te falar. Mas como você me conhece muito bem, não posso mentir. Seria hipocrisia minha? O que seria? Falta a palavra apropriada para a emoção. Saramago saberia muito bem do que estou falando.
Andei pensando muito, nas últimas horas, como eu faria para escrever o prefácio de um livro seu. Acontece, que eu não consigo.
Andei lendo muito, nas últimas horas, tentando encontrar uma maneira de apresentar o caminho que você, com seu dom esplêndido, construiu para a representação da vida nos seus contos.
Acontece, que eu não acho.
Minha cara amiga, não de velhos, mas de intensos tempos, a emoção me invade. Como quando fui assistir à sua primeira apresentação teatral. Lembro bem, Joana e Medéia, não consegui conter minhas lágrimas durante todo o espetáculo. Como diria o outro, “a lágrima é o estado líquido da alma”, e assim eu estava ali, pura alma, que não cabia em si de tanto orgulho da amiga de batom vermelho e voz de gigante, sentia emoção e tudo o que só os imortais podem descrever. Assim também estou agora.
Orgulho, essa palavra não é tão boa de se pronunciar quanto adstringência, ou como aquelas que dizíamos enquanto subíamos pelo canteiro da Floriano Peixoto. Mas tenho essa palavra de você. E eu sou muito feliz por isso.
Te contei e recontei tantas coisas. Tantos segredos de liquidificador. Que agora não posso, não, Nara. Me deixa na tarefa de viver a personagem, de editar os inexistentes erros gramaticais que no teu livro contiverem, é mais fácil, é mais simples, porém sincero. A propósito, você já pronunciou isso em voz alta “Meu livro”? A cara da riqueza.
Andei vendo suas recomendações de leitura, de música. Que maravilhas você encontra por aí, hein? A moça que nasceu no lugar errado, no tempo errado, consegue adivinhar meus pensamentos no tempo certo, é aquela coisa, né, Aquela...
Ah, por tudo, desde o início, nossas primeiras interpretações de Caio Fernando Abreu, caminhando por Chico Buarque, Elisa Lucinda (a quem você me apresentou e sou muitíssimo grata por isso), Caetano, “balisa... anh, balisa...”, tantos momentos que fazem você se tornar cada vez mais uma pessoa dessas que eu nem sei como e porquê eu tive a sorte de me quererem em sua vida.
Por isso tudo eu deveria fazer, mas por isso tudo também eu não posso.
Um soneto de Paulo Mendes Campos, encontrado no Blog de Antônio Cícero, o qual você me recomendou:

Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma é pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no meu peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

Espero que você não fique decepcionada comigo. Você não pode.

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